A Insignificância de Michele no Mundo

 





    Eu estava sentada em posição fetal, enquanto a água escorria pelas minhas costas, meus pensamentos não queriam dizer muitas coisas só estava me preparando para o incrível e longo dia que viria pela frente. Não boto fé em que não toma banho em forma fetal pela manhã, no meu quarto sempre fico me observando no espelho, as vezes escuto alguma música, as vezes não, não sei o que dizer do meu quarto, não sei bem o que dizer da minha vida.

    Sempre saio de casa as 07:30 tudo sempre é a mesma coisa, um carro preto estacionado do outro lado da rua, o carro já está ali há uns 15 anos, talvez o carro saiba mais de mim do que eu dele, dou cinco passos e tem um arranha céu preto, foi construído a pouco tempo. Mais em frente a avenida da cidade com pessoas e mais pessoas, é nesse momento que coloco meus fones e tento evitar o máximo de contato social possível. Sim, sou o tipo de mulher que escuta Capital Inicial e não me julgue por isso, pode me julgar pelo fato que eu não gostar de batata doce frita e sim as pessoas fritam batatas doces, no começo o sabor dela é legal, foda é a massa que fica na boca.

    Meus primeiros erros foi ver tantas vezes a cara da morte, ela não é muito agradável, sempre que penso em me matar lembro que possivelmente eu só tenho essa vida e se por acaso existir um deus ou diabo, eu não gostaria de vê-los antes do prazo dessa vida tão cheia de significados, é incrível que sempre quando penso nessas coisas o spotify muda para Skank, especialmente à música “vou deixar”. É uma música boa, porém, não dá para deixar a vida me levar, eu não sei o caminho e aparentemente ela também não sabe.

    Acabou de passar por mim um homem usando um jaleco preto e uma sandália confesso que achei ele muito atraente, um jaleco e uma sandália, nem os principais centro de modas do mundo seriam capazes de pensar nisso e ele pensou. Talvez esse estilo dê a esse cara a capacidade de ser feliz, a felicidade existe? Meu ex-namorado me fazia feliz, mas, tudo virou monótono e eu não era apta para conseguir sentir ele mais, eu terminei com ele, ele chorou. Estou a três anos solteira, sinto saudades apenas do sexo e de alguns momentos que em que nós saíamos pelas ruas olhando para o céu sem nenhum motivo. Acho que ainda gosto dele.

    Confesso que agora meu emocional foi para o ralo. 

    Bem-vindo aos tempos líquidos, malditas sociedades modernas e seus fracassos do passado, sim o passado tem muita culpa, quase toda na real, somos resultado frustrantes de uma sociedade ainda mais frustrante. Toda vez passo em frente a uma igreja, não sei bem se é uma católica ou evangélica, não curto nenhuma igreja, talvez a ideia de deus que elas oferecem possa até ser boa, mas, elas em si não são. Meu celular vibrou e eu pensei que havia recebido uma mensagem dele, era apenas um grupo que entrei quando estava na vibe de cozinhar, logo percebi que cozinhar é algo difícil e eu não estava disposta a aprender. Pensei que me sentiria mal por sair do grupo, por causa dos poucos integrantes que ele tem, por isto, não saí.

    São 08:00 e eu ainda não cheguei, apesar de não ter ansiedade para chegar hoje estou com pouca. O que eu irei fazer essa noite? Queria tomar um vinho e chamar alguém para assistir um filme comigo, porém o vinho está caro e normalmente ninguém realmente quer assistir o filme, sempre pensam que os convidei ou as convidei para transar e sexo se tornou algo superficial depois que transei com amor, o amor melhora e destrói muitas coisas.

    Queria usar droga, mas estou insegura comigo e com o mundo. Começou a possível melhor música já cantada no mundo: “O Segundo Sol” por Cássia Eller, as palavras não tem sentido, mas se encaixam muito bem, as palavras no geral não têm sentido. Porque eu sempre fico pensando coisas tão sem sentido nesse caminho? Será que as pessoas pensam a mesma coisa? Ou pode ser o paradoxo do pensamento, eu penso que só eu penso essas coisas, quando vou ver, todos e todas pensam absolutamente a mesma coisa, é, acho que não sou especial. Ninguém é especial, o egocentrismo vai ser a morte da humanidade. Será que o meu escritor ou escritora é pós modernista? É legal pensar na perspectiva que nossas vidas são livros sendo escrito por alguém, é complicado porque esse alguém pode levar ao pensamento de deuses.

    Um acidente com dois carros, espero que as pessoas estejam bem, qual a sensação de se envolver em um acidente? Deve ser algo horrível, não quero pensar nisso, merda, agora eu estou pensando nisso. Interessante, uma plantação de girassol no meio da cidade, uma vez vi que girassol para psicologia significava alegria ou algo assim, quero ter uma plantação de girassol. Apesar que uma vez tentei plantar uma Nerine sarniensis e ela simplesmente não cresceu. Minha mãe disse que era minha mão, eu não tenho mãos para o plantio é isso que minha mãe me falou, cortou todos os meus panoramas sobre vários aspectos da vida.

    Se existe o lance de ter mão para plantar uma flor, provavelmente existe algo para cada coisa que existe nessa terra e eu não sei lá fazer muitas coisas, na verdade não sei o que eu sei fazer. Será que alguém está gravando meus pensamentos? Eu devo ter algum transtorno mental para ficar conversando comigo mesma. O lado bom é que é apenas a minha voz na cabeça e a do cantor que vem pelo fone, Alceu Valenca – Anunciação. Eu me fechei para o mundo e isso não me deixa mal, porra Michele, olha o que tu estás pensando menina. Eu não sou uma menina, estou no ápice dos meus 29 anos e talvez com uma poupança de 150 reais. Pode parecer pouco e é.

    Uma placa escrita: “Talvez Alguma Coisa Importa” Gostei, vou procurar coisas que talvez importe para mim. Meu gato importa, é, eu não tenho gato. Eu poderia adotar um gato hoje à noite, melhor não, a falta de movimento naquela casa é confortante, o silencio e o imenso vazio que há lá, ele me faz bem. 

 

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