Vida na Web: Um Sonho que se Tornou um Pesadelo






Eu sou o Álvaro, um adulto que está morto. Eu me suicidei em 7 de janeiro de 2105. Era um ano especial, cheio de perspectivas, onde a população estava no ápice da modernidade. Os Teslas já voavam e nenhum humano precisava mais trabalhar. Tudo parecia perfeito, belo e a espécie humana já se arrependeu de seus piores crimes, como o racismo, desigualdade e homofobia. Acredito que o planeta Terra nunca esteve tão feliz assim. O oxigênio era puro e não havia poluição. O poder incrível da tecnologia revolucionou tudo. Entretanto, o mundo da internet parecia ser um lugar bem mais agradável para se estar. Eu não sentia dor e era perfeito online. Na vida real, eu não conhecia minhas qualidades e talvez nem as tivesse. Isso nunca me importou e esse foi meu erro. O mundo perfeito da tecnologia me mostrou que, no final, a vida na Terra sempre chama primeiro. Quando isso acontece, é chato porque eu fui moldado para viver na web e mesmo a Terra sendo magnífica, ela não é a web e isso dificulta nossa relação. Sabe, quando nasci, quando todos os bebês nascem, implantamos seu SIPN (SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO PESSOAL NACIONAL). Basicamente, isso é um RG que dá acesso à internet. Todos os habitantes da belíssima Terra, quando nasciam, eram conectados à rede. Isso não é algo ruim, visto que tudo funcionava na internet. O SIPN é basicamente uma versão melhor dos óculos VR. Bastava eu dizer isso. Eu saía da web duas ou três vezes por semana para passear na Terra. Não sabia onde estava, já que não havia mais nações. Tudo era só um lugar e esse lugar não tinha nome. A internet moldou muitas coisas para o mundo, e o mundo agradeceu. Voltou a gerar as várias formas de vida, e o planeta Terra é bom para isso. Nessas minhas jornadas semanais no planeta Terra, eu via o universo e o sensível cheiro das flores. Não tenho culpa, flores são o mais próximo que podemos chegar do amor. Eu queria ser amado, mas nunca admiti isso. Busquei por um bom tempo o amor, mas acho que amar não cabe a todos. Para que o amor, se a tecnologia me dava tudo? Acho que foi por isso que a tecnologia se tornou o que é hoje. Ela dá o que você quiser, e você não precisa querer muito. Eu só queria ser perfeito e fui. Eu não sabia bem o que fazer no planeta Terra. Parecia que ele só foi
criado para nós, humanos, ficarmos conectados. Nenhuma interação humana sóbria importava mais. Afirmo que isso foi o que fez a internet ganhar da realidade na Terra. Para aplicar a realidade dela, interações são chatas.  

Sabe por que eu me matei? Porque não havia sentido nenhum em se manter vivo, sendo que a realidade inventada pela internet ganhava da realidade. Quando me matei, acordei. Só estava sonhando. 

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